Autoridade de Saúde rejeita falhas no hospital de Ponta Delgada

O responsável da Autoridade de Saúde Regional dos Açores rejeitou hoje que o plano de contingência do hospital de Ponta Delgada tenha falhado por ter sido detetada transmissão local de covid-19 na unidade.

Não considero que tenha existido uma falha do plano contingência elaborado pelo conselho de administração do Hospital do Divino Espírito Santo, pelo contrário. Se da parte do hospital e dos profissionais que exercem naquela unidade hospitalar não tivessem já uma cultura instituída de boas práticas naquilo que diz respeito à prevenção e controlo da infeção teríamos um cenário bastante pior”, adiantou Tiago Lopes.

O responsável máximo da Autoridade de Saúde Regional dos Açores falava, em Angra do Heroísmo, no ponto de situação diário sobre a evolução do surto de covid-19 na região.

No Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, localizado na ilha de São Miguel, a maior do arquipélago, foram já detetados cinco casos positivos de covid-19 em utentes e 12 em profissionais de saúde, três dos quais na sequência de viagens ao exterior (dois deles entretanto recuperados).

A transmissão local terá sido originada por dois profissionais de saúde infetados em contexto familiar, numa cadeia de transmissão iniciada no concelho da Povoação.

“Tivemos essa infelicidade de ter como veículo de transmissão internamente na unidade hospitalar alguns profissionais de saúde, mas isso pode acontecer através de profissionais de saúde, quer através de utentes”, apontou Tiago Lopes, sublinhando que o surto “é de difícil deteção” e não se consegue “ver a olho nu”.

Só na ilha de São Miguel já foram testados 325 profissionais de saúde, a maioria do hospital de Ponta Delgada, e a Autoridade de Saúde Regional determinou que passariam a ser sujeitos a análises à covid-19 todos os utentes admitidos para internamento ou com alta da unidade hospitalar.

“Nada aponta para que essa cadeia de transmissão tenha tido uma grande disseminação ao nível hospitalar, mas ainda assim, por precaução, estamos a fazer este rastreio a todos os profissionais e utentes para salvaguardar alguma ponta solta que possa ter ficado”, justificou o responsável da Autoridade de Saúde Regional.

“Já temos alguns serviços que foram na totalidade testados e todos os elementos da equipa de saúde tiveram resultado negativo”, acrescentou.

Entre os utentes infetados no Hospital do Divino Espírito Santo estava uma utente do lar da Santa Casa da Misericórdia do Nordeste, o que originou também um foco de infeção na estrutura residencial, onde já morreram três idosas.

Os Açores registaram até ao momento 102 casos positivos de covid-19, 11 recuperações e cinco óbitos.

Até ao momento, foram identificadas sete cadeias de transmissão local (uma na ilha do Pico, duas na Terceira e quatro na ilha de São Miguel), estando todas aparentemente “confinadas”, à exceção da terciária iniciada no concelho da Povoação.

A Autoridade de Saúde Regional ainda não conseguiu identificar a origem de três casos confirmados, entre eles o de um cidadão sem-abrigo no concelho da Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, apesar de já terem sido testados 52 contactos próximos dos mais de 100 identificados.

Numa das cadeias de transmissão registadas no concelho de Ponta Delgada, há uma suspeita de um paciente zero que estará no continente português, mas ainda não foi possível confirmar se estará infetado.

“Fruto dos constrangimentos que têm sido sentidos a nível continental na realização de testes, ainda não tivemos a realização do teste nem o resultado obtido”, avançou Tiago Lopes.

Na outra cadeia de transmissão detetada neste concelho, já foram realizados vários testes a contactos próximos, mas o utente está internado em cuidados intensivos, não tendo sido possível “aferir o seu histórico”, em termos epidemiológicos.

foto/JEdgardo Vieira

Lusa/AExp. Online