Governo dos Açores diz que Terceira Tech Island é para continuar mas sem subsídios ilimitados

O vice-presidente do Governo Regional dos Açores (PSD/CDS-PP/PPM) disse hoje que o projeto Terceira Tech Island, iniciado pelo anterior executivo (PS), terá continuidade, mas ressalvou que as empresas não podem receber subsídios indefinidamente.

“As empresas não podem estar indefinidamente instaladas no Terceira Tech Island, com funcionários subsidiados, com rendas pagas e a viver de subsídios. As empresas têm a primeira subsidiação para instalação, de ‘start up’, depois têm de caminhar”, afirmou, em declarações à Lusa, o vice-presidente do executivo açoriano, Artur Lima.

O governante falava, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, à margem da inauguração das instalações da empresa tecnológica ForTrevo, que se instalou em 2018 no concelho vizinho da Praia da Vitória, no âmbito do projeto Terceira Tech Island, e se mudou agora para instalações de maior dimensão.

Lançado em 2017 pelo executivo regional do PS, com o objetivo de mitigar o impacto da redução militar norte-americana na base das Lajes, que eliminou cerca de 400 postos de trabalho, o projeto Terceira Tech Island visava a criação de um polo de empresas tecnológicas na ilha.

O Governo Regional assegurava o pagamento de formação de curta duração em programação e o custo das rendas dos espaços onde se instalavam as empresas, estando prevista a recuperação do edifício onde funcionava a escola da Força Aérea norte-americana na base das Lajes para esse efeito no futuro.

Entre 2018 e 2020, instalaram-se na Praia da Vitória mais de 20 empresas da área digital, que criaram cerca de 170 empregos.

O atual executivo, que tomou posse em novembro de 2020, deixou de comparticipar a formação em programação em 2022.

O PS acusou a coligação de “desinteresse” pelo projeto, alegando que cinco empresas já abandonaram o projeto e nenhuma outra se instalou.

Questionado sobre a continuidade do Terceira Tech Island, o vice-presidente do Governo Regional, que tutela a área da ciência, investigação e tecnologia, ressalvou que a gestão do projeto não está na sua pasta, mas disse estar convicto de que terá continuidade e admitiu uma sinergia com o Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira (Terinov).

“O Terceira Tech Island é para continuar. Não sei se será nos exatos moldes em que vinha sendo. É um projeto que envolve a Câmara Municipal [da Praia da Vitória] e o Governo [Regional]. Julgo que está em reanálise todo este projeto, quer ao nível da formação, quer ao nível da fixação, quer ao nível dos subsídios”, afirmou.

Artur Lima rejeitou, no entanto, que a saída das empresas esteja relacionada com a tomada de posse do atual Governo Regional.

“Já vinham a abandonar no anterior governo. Aliás, em 2019 e em 2020 houve empresas que abandonaram, outras que reduziram substancialmente o número de funcionários. Eu próprio quando era deputado do CDS-PP denunciei essa situação. Não tem nada a ver com a mudança de governo”, apontou.

Na cerimónia de inauguração das instalações da ForTrevo, Artur Lima destacou a importância destas empresas para a fixação de população nos Açores, sublinhando que a região tem de “tirar rendimento palpável de parcerias nos domínios científico, tecnológico e digital”.

“No mercado global e altamente competitivo, sobretudo na área tecnológica e digital, o facto de empresas deste género se fixarem nos Açores é elucidativo do nosso potencial estratégico a nível internacional, mas a fixação de empresas tecnológicas tem de evidenciar benefícios concretos para os Açores ao nível da criação de riqueza e das oportunidades de emprego para os locais”, apontou.

“Queremos empresas com responsabilidade social, atentas a necessidades da região, prontas a fazer parte da solução e que não estejam à espera de mais um subsídio público para continuarem a desenvolver atividade na nossa região”, acrescentou.

A ForTrevo, empresa que desenvolve soluções tecnológicas, instalou-se em 2018 na Praia da Vitória com três programadores, mas hoje tem 11 (10 naturais da ilha Terceira) e prevê aumentar este número.

“O objetivo de nos mudarmos para umas instalações maiores é continuar a [fazer] crescer a nossa equipa”, disse Olga Duarte.

A diretora executiva da empresa admitiu que os apoios obtidos no âmbito do Terceira Tech Island foram “um pontapé de saída importante”, para a instalação na ilha, mas destacou sobretudo a mão-de-obra existente.

“Há muito talento local. Há muitos jovens, infelizmente desempregados, à procura de uma oportunidade, e muitos deles qualificados, que podem evoluir rapidamente. Temos exemplos de pessoas que estão connosco há três anos e neste momento são programadores seniores”, afirmou.

Com “alguns clientes na Terceira”, a empresa trabalha sobretudo para o estrangeiro, em particular para a Europa e para os Estados Unidos, mercado em expansão, desde que está nos Açores.

“Os voos para os Estados Unidos são muito bons, as pessoas estavam abertas a ir e as pessoas de lá a virem. Essa ponte era bem mais estreita nos Açores”, explicou.

foto/ JEdagrdo

Lusa/ AExpresso